8 de março: Receber essas flores hipócritas não me sensibiliza mais.

domingo, 16 de março de 2014


Durante a infância, os educadores da minha turma nos preparavam para o oito de março com o intuito de que confeccionássemos flores no colégio e dar de presente para as mulheres da nossa vida. Geralmente eram as responsáveis por nós. E sempre que oferecemos aquelas flores ou demais presentes em seguida dizíamos um "Feliz dia da mulher, parabéns". 

Além de nunca ter passado disso, eu não sabia que estava parabenizando vítimas de abuso e pessoas historicamente oprimidas. E quanto mais eu crescia, mais os professores de todas as minhas turmas me ensinavam que esse dia era especial e que deveríamos parabenizar as mulheres. Cresci e fui parabenizada também. Com ironia, às vezes com deboche e com alguns abraços. Mas ninguém se questionava sobre o motivo dessa data. Além de não fazer sentido ser parabenizada, isso sempre foi feito na maioria das vezes por pessoas que nunca entenderam de fato o motivo de reivindicarmos respeito o tempo inteiro. E assim eu aprendi. Assim se tornou automático até que eu aprendesse que ser mulher não me faz querer receber os parabéns.

Não quero ser parabenizada por ser vitima de um sistema que me inferioriza todos os dias. Isso não me convence que o oito de março foi feito para que eu receba flores e no dia seguinte seja desrespeitada e presencie desrespeito. Sua flor, seu presente ou suas congratulações não adiantarão NADA se você continua culpabilizando mulheres pelas agressões que elas sofrem. Se você acha que defini-las como "santinhas" ou como "rodadas" influenciaria de alguma forma no caráter delas. Não adianta me dar os parabéns se você acha que é dono do corpo que você julga como sua propriedade. Se você não entende que mulheres são donas de suas próprias escolhas ou se você ainda diz que mulheres precisam se dar o VALOR já que quem costuma fazer o contrário MERECE ser violentada.


Seus parabéns não me comovem se você acha que todas as mulheres devem engolir suas investidas porque elas não podem recusar. E se aceitarem, são promiscuas. Não servem para nada além disso, não é mesmo? Já que esse é o papel delas. 
Porque ter o direito de explorar o meu próprio corpo só existe se um homem me permitir fazer o que posso ou o que não devo. Um parabéns vindo de alguém que acha que necessito de aprovação para ser quem sou não me deixa feliz por ser mulher. 

Por isso, receber essas flores hipócritas não me sensibiliza mais.




Por Thaís Almeida, que sente que seu nome real é o seu apelido Jezabel (arrobaanacronizada), 20 anos de idade, do Rio de Janeiro-RJ, planeja uma carreira como psicóloga e nenhuma palavra definiria o suficiente alguém que está em constante desconstrução.
Texto postado originalmente no Facebook da Thais.



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