Entre a poesia e a prosa de esquina

segunda-feira, 21 de julho de 2014

(fonte)
Transformei-me num ser adepto do inacabado. Não sei precisar em que momento exato isso aconteceu. Não me recordo do ano, da ocasião ou mesmo da força de vontade que acabou por esvair-se do meu âmago.

O que sei é que recrutei minha existência para esta estrondosa bolha que construí ao meu redor. Fiz do pacato, a minha rotina. Elevei a exaustão mental ao ápice. E agora, aqui estou para entoar poesia diante daquilo que age como navalha por dentro.

Sou os livros que ainda nem folheei. Sou as pessoas com quem não convivi. Sou as criaturas com quem me desgastei. Sou as noites que me encontrei, insistentemente, insone. Sou as conversas que não terminei. Sou os corpos que não ousei abraçar. Sou os lábios que procurei não beijar. Sou os ‘agoras’ que ficaram para os ‘amanhãs’.  Sou as realizações que deixei para os sonhos. Sou as realidades que empurrei para as ilusões. Sou as verdades mal digeridas. Sou as mentiras, mais ou menos, engolidas. Sou ‘o dentro’ que grita quando ‘o fora’ cala. Sou a boca que esperneia mesmo quando deveria silenciar. Sou da exaustão que não cede lugar ao dançar. Sou da sinceridade estampada que não troca de papel com a máscara levantada. Sou tanta poesia dilacerante impregnada de uma prosa dissonante.
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